Claudia da Costa Leite
Atualizado em26/01/2023
Um dos sintomas marcantes da infecção pelo vírus da COVID-19 é a perda de olfato, com descrições de até 60 – 70% dos pacientes apresentando anosmia ou outra alteração da olfação. Entretanto, o carácter neurotrópico do vírus da COVID não foi demonstrado inequivocamente.
As publicações sobre achados de imagem de ressonância magnética (RM) são escassos e, como os bulbos olfatórios têm pequenas dimensões e são pouco estudados quanto a medidas volumétricas, há questionamentos sobre a relação entre estes achados e a infecção pelo COVID. Resta a dúvida se estas alterações são relacionadas à infecção pelo COVID ou já existiam e foram fatores predisponentes para a apresentação destes sintomas.
Thunell E. et al (AJNR 2022) utilizaram no seu estudo um grupo de pacientes e voluntários que haviam sido incluídos em um estudo volumétrico e funcional das vias olfatórias (antes da pandemia) e recrutaram deste estudo 9 pacientes que apresentaram COVID e 12 que testaram negativo para os anticorpos e não apresentaram sintomas de infecção pelo COVID (grupo controle), estudando tanto sintomatologia relacionada a anosmia/hiposmia como repetindo os exames de RM.
Esta nova avaliação foi feita entre 3 semanas e 12 meses após a infecção pelo COVID no grupo de pacientes infectados. Testes para avaliação das funções olfatórias foram realizados no projeto pré-COVID e nos indivíduos incluídos na vigência da pandemia. Na RM foram feitas sequências para avaliação volumétrica e RM funcional com a técnica resting state para avaliação de conectividade cerebral.
Apesar de não terem sido encontradas diferenças entre os testes objetivos de olfação, pacientes pós-COVID relataram alterações subjetivas como anosmia, hiposmia, parosmia e fantosmia. A ausência de alterações nos teste clínicos podem estar associados a falha destes testes em avaliar sintomas como parosmia e fantosmia.
Houve redução de até 14% de volume no bulbo olfatório dos pacientes pós-COVID, exceto, por um indivíduo que apresentou aumento desta estrutura. Não foram encontradas alterações volumétricas significativas nos córtices piriformes ou orbitofrontal. Na sequência de resting state foram encontradas diferenças de conectividade entre os córtices orbitofrontal e piriforme anterior e córtices orbitofrontal e piriforme posterior, sendo que os autores atribuíram estas alterações à plasticidade cerebral.
A maior crítica deste trabalho é o número muito pequeno deste grupo de estudo, entretanto a presença de exames pré e pós-infecção pelo COVID é uma característica ímpar e permite a comparação de achados antes e após a infecção.
Ainda temos muito a aprender em relação à infecção pelo COVID.
TAGS: COVID, sintomas olfatórios, anosmia, ressonância magnética
E. Thunell, M.G. Peter, V. Lenoir, P. Andersson, B.N. Landis, M. Becker, J.N. Lundström — Publicado em 24/12/2022 — American Journal of Neuroradiology
DOI:
10.3174/ajnr.a7713A Pupilla
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