Dia Mundial da AIDS: Precisamos de equidade!

Flávia Almeida

30/11/2022

Atualizado em01/12/2022

4 min
Dia Mundial da AIDS: Precisamos de equidade!

Em julho de 2022, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) lançou o relatório denominado Em Perigo (In Danger), mostrando uma preocupação na forma como a resposta global à pandemia de AIDS foi afetada pelas recentes crises – da pandemia da COVID-19 até a guerra da Ucrânia - alertando para o crescimento dos índices de infecção pelo HIV, aumento no número de mortes em decorrência da AIDS e brutais inequidades no acesso ao tratamento antirretroviral (TARV), sobretudo nas regiões mais pobres do mundo.


Aumento anual de infecções

Europa Oriental, Ásia Central, América Latina, Oriente Médio e Norte da África têm visto aumentos nas infecções anuais pelo HIV ao longo de vários anos (Figura 1).


Na Ásia e no Pacífico, os dados mostram que novas infecções pelo HIV, que estavam em declínio, agora, voltam a apresentar crescimento (Figura 1).

 

Figura 1. Novas infecções anuais pelo HIV, por região, 2015-2021

 

Desigualdades perigosas

Em 29 de novembro de 2022, a UNAIDS divulgou um outro relatório anual, intitulado Desigualdades Perigosas, que alerta para o fato de como as desigualdades estão obstruindo o fim da pandemia de AIDS. O relatório mostra que, se forem mantidas as tendências atuais, o mundo não conseguirá atingir a meta de acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública até 2030.


Este novo relatório mostra, claramente, que as desigualdades são a principal causa para a perpetuação de uma epidemia que já dura 40 anos. Aponta como líderes mundiais podem lidar com essas desigualdades e apela para que orientem as políticas de enfrentamento à Aids com base em evidências, de forma consistente, corajosa e baseada nos dados e evidências resultantes dos anos de resposta ao HIV.


O relatório Desigualdades Perigosas destaca alguns pontos fundamentais

  • Desigualdades de gênero;
  • Vulnerabilidade de meninas adolescentes e mulheres jovens. Como exemplos, em regiões com alta incidência de HIV, as mulheres submetidas à violência por parte de seu parceiro enfrentam uma chance 50% maior de ser infectadas pelo HIV.;Por outro lado, meninas que permanecem na escola até a conclusão do ensino médio têm reduzida em até 50% sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV;
  • Masculinidade tóxica, ao desencorajar os homens de procurar os cuidados de saúde. Enquanto 80% das mulheres vivendo com HIV tiveram acesso ao tratamento em 2021, esta proporção é de 70% entre homens;
  • Desigualdades e racismo estrutural. No Brasil, as desigualdades impactam a resposta ao HIV de diferentes formas. Dados do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS de 2021 trazem mostram uma tendência pela qual as pessoas negras são particularmente afetadas pela pandemia de HIV. Quando considerados os casos notificados de AIDS entre 2010 e 2020, foi observada uma queda de 9,8% na proporção de casos entre pessoas brancas. Entretanto, no mesmo período, a proporção entre pessoas negras foi na direção oposta, com um aumento de 12,9%. No caso dos óbitos causados por doenças decorrentes da AIDS, a mesma desproporção existe. Entre 2010 e 2020, houve uma queda de 10,6% na proporção de óbitos de pessoas brancas e o crescimento de 10,4% entre pessoas negras;
  • Estigma, discriminação e criminalização de populações-chave (travestis e pessoas trans, gays e homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas em privação de liberdade e pessoas que fazem uso de drogas injetáveis): representam uma barreira para o acesso aos serviços de HIV;
  • Impacto nas juventudes. Novas infecções pelo HIV têm crescido justamente entre a população jovem, entre 15 e 24 anos. Nesse contexto, é fundamental que tenhamos mais ações de educação e comunicação sobre infecções sexualmente transmissíveis (IST) e sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV e AIDS específicas para as juventudes, com ênfase para jovens em condições de maior vulnerabilidade;
  • Diferença no tratamento entre crianças e adultos. Enquanto mais de três quartos dos adultos vivendo com HIV estão em TARV, apenas pouco mais da metade das crianças na mesma situação tomam os medicamentos. Em 2021, as crianças representavam apenas 4% de todas as pessoas vivendo com HIV, mas foram afetadas por 15% de todas as mortes relacionadas à AIDS;
  • Financiamento da resposta ao HIV. Os recursos para o HIV e a AIDS devem priorizar a saúde e o bem-estar de todas as pessoas, especialmente as populações em situação de vulnerabilidade, que são mais afetadas pelas desigualdades relacionadas ao HIV. O espaço fiscal para investimentos em saúde em países de baixa e média renda precisa ser ampliado, inclusive por meio do cancelamento substancial de suas dívidas e da tributação progressiva.


Dessa forma, ações para combater as desigualdades são urgentes e necessárias para prevenir milhões de novas infecções por HIV nesta década. É preciso garantir a equidade de acesso aos direitos, aos serviços, ao acesso à melhor ciência e medicina.

 

Leituras Recomendadas

IN DANGER: UNAIDS Global AIDS Update 2022. Geneva: Joint United Nations Programme on HIV/ AIDS; 2022. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: https://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/2022-global-aids-update-summary_en.pdf

Dangerous inequalities: World AIDS Day report 2022. Geneva: Joint United Nations Programme on HIV/AIDS; 2022. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: https://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/dangerous-inequalities_en.pdf

 

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Flávia Almeida

Infectologia

CRM: 91434-SP

Médica formada pela Universidade de Mogi das Cruzes, com residência em Pediatria e Infectologia Pediátrica pela Santa Casa de São Paulo, doutorado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Professora assistente de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Médica assistente da Infectologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo.

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