Ibraim Masciarelli Francisco
Atualizado em12/04/2022
Pacientes infectados pelo SARS-CoV2 apresentam curso clínico muito variável, mas, muitas vezes, podem evoluir de modo desfavorável, com elevada mortalidade em alguns subgrupos. Dentre os elementos que podem agravar o prognóstico, destaca-se a incidência de tromboembolismo pulmonar, cujas condições predisponentes, tais como a injúria do endotélio, o processo inflamatório intenso e a coagulação intravascular disseminada, dentre outros, podem estar presentes nos portadores de SARS-CoV2. Este trabalho foi feito para identificar as principais características de pacientes com tromboembolismo pulmonar após infecção pelo coronavírus 2.
Métodos: Foram recrutados pacientes com diagnóstico confirmado de COVID-19 por PCR de material colhido na nasofaringe ou por tomografia computadorizada de tórax diante de quadro clínico compatível com infecção por SARS-CoV2 e exames laboratoriais inconclusivos, atendidos em 24 centros franceses. Nas ocasiões em que o paciente apresentava dispneia ou piora da dispneia que não fossem explicadas pelos resultados da tomografia não contrastada de tórax, nem por outros exames, os pacientes eram submetidos à angiotomografia de artérias pulmonares, para confirmar ou excluir a presença de tromboembolismo pulmonar .
Resultados: A partir da população de 2878 pacientes com diagnóstico de COVID-19, realizou-se a tomografia das artérias pulmonares em 1240 e confirmou-se a presença de tromboembolismo pulmonar em 103 (8,3%), dos quais 50,5% tinham perfil de baixo risco para este tipo de complicação. O diagnóstico foi feito nas primeiras 48h de internação em 80 (77,7%) dos pacientes, sendo a mediana entre o tempo de internação hospitalar e a morte nestes pacientes de 6,4 dias.
Dos diferentes fatores de risco para tromboembolismo pulmonar, após a análise multivariável, permaneceram como determinantes independentes: sexo masculino; anticoagulação em doses profiláticas ou terapêuticas; os valores do exame de proteína C reativa; o intervalo de tempo entre o início dos sintomas e a internação hospitalar.
A ocorrência de tromboembolismo pulmonar se associou com maior necessidade de transferência para unidade de terapia intensiva e de ventilação mecânica, mas, por outro lado, não se associou a uma maior mortalidade (8,7% versus 12,5% na população geral, p= 0,338).
Discussão e relevância clínica: Os autores consideram que a instalação de tromboembolismo pulmonar, em pacientes com COVID-19, podem ser consequência direta dos mecanismos de instalação e desenvolvimento de doença após contato com o vírus. Isso explicaria a falta de associação entre fatores de risco clássicos para a ocorrência de tromboembolismo pulmonar e o diagnóstico desta complicação nestes pacientes. Sabe-se que pacientes com COVID-19 podem apresentar distúrbios hematológicos, alterações do endotélio, e que a intensa resposta inflamatória do organismo ao agente agressor pode potencializar a chance deste evento. Desta forma, o artigo traz importante contribuição ao apontar quais são os preditores independentes de tromboembolismo nesta população, ratificando que tais casos devem ser monitorados ativamente devido ao aumento da gravidade desta entidade, considerando que o tratamento correto pode alterar de modo significativo a ocorrência de desfechos adversos.
Charles Fauvel, undefined undefined — Publicado em 07/06/2020 — European Heart Journal
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