Use of Intravenous Gadolinium-based Contrast Media in Patients with                    Kidney Disease: Consensus Statements from the American College of Radiology and                    the National Kidney Foundation

Use of Intravenous Iodinated Contrast Media in Patients with Kidney                    Disease: Consensus Statements from the American College of Radiology and the                    National Kidney Foundation

Médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Residência Médica em Radiologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Radiologia Abdominal pelo Hospital das Clínicas da Faculdad​e de Medicina da USP. Médica assistente e pesquisadora no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.​



Angela Hissae Motoyama Caiado

Radiologia

Em geral, os exames de ressonância magnética demonstram maior acurácia utilizando-se os meios de contraste à base de gadolínio (MCBG). Entretanto, em pacientes com déficit da função renal, pelo temor de eventos adversos, como a FNS e nefrotoxicidade, seu uso, há alguns anos, vem sendo proscrito. As recomendações sobre o uso de MCBG em pacientes com insuficiência renal, todavia, evoluíram e o pavor inicial, deu lugar ao bom senso. Na tabela 1 e

Em geral, os exames de ressonância magnética demonstram maior acurácia utilizando-se os meios de contraste à base de gadolínio (MCBG). Entretanto, em pacientes com déficit da função renal, pelo temor de eventos adversos, como a FNS e nefrotoxicidade, seu uso, há alguns anos, vem sendo proscrito. As recomendações sobre o uso de MCBG em pacientes com insuficiência renal, todavia, evoluíram e o pavor inicial, deu lugar ao bom senso. Na tabela 1 estão discriminados os meios de contraste à base de gadolínio e sua classificação pelo ACR, baseada nas respectivas associações com FNS.&nbsp;<table width="566"><tbody><tr><td width="566" colspan="4">Table 1: Classificação da ACR dos MCBG em relação a sua associação com FNS</td></tr><tr><td width="169">Nome comercial</td><td width="208">Nome genérico</td><td width="151">Estrutura</td><td width="38">Grupo</td></tr><tr><td width="169">Omniscan (GE Healthcare)</td><td width="208">Gadodiamida/ Gd- DTPA-BMEA</td><td width="151">Linear não iônico</td><td width="38">I</td></tr><tr><td width="169">OptiMark (Guerbet)</td><td width="208">Gadoversetamida/ Gd-DTPA-BMEA</td><td width="151">Linear não iônico</td><td width="38">I</td></tr><tr><td width="169">Magnevistan (Bayer)</td><td width="208">Gadopentetato de dimeglumina/ Gd-DTPA</td><td width="151">Linear não iônico</td><td width="38">I</td></tr><tr><td width="169">MultiHance (Bracco)</td><td width="208">Gadobenato de dimeglumina/ Gd-BOPTA</td><td width="151">Linear não iônico</td><td width="38">II</td></tr><tr><td width="169">ProHance (Bracco)</td><td width="208">Gadoteridol/ Gd-HP-DO3A</td><td width="151">Macrocíclico não iônico</td><td width="38">II</td></tr><tr><td width="169">Gadovist (Bayer)</td><td width="208">Gadobutrol/ Gd-BT-DO3A</td><td width="151">Macrocíclico não iônico</td><td width="38">II</td></tr><tr><td width="169">Dotarem</td><td width="208">Gadoterato de meglumina/ Gd-DOTA</td><td width="151">Macrocyclic ionic</td><td width="38">II</td></tr><tr><td width="169">Clariscan (GE Healthcare)</td><td width="208">Gadoterato de meglumina/ Gd-DOTA</td><td width="151">Macrocyclic ionic</td><td width="38">II</td></tr><tr><td width="169">Primovist &nbsp;(Bayer)</td><td width="208">Gadoxetato dissódico</td><td width="151">Linear ionic</td><td width="38">III</td></tr></tbody></table>&nbsp;&nbsp;Estadiamento da insuficiência renal aguda (IRA) e doença renal crônica (DRC)Em um documento publicado em 2020 (Davenport et. al. &nbsp;Radiology. 2020) foram definidos os critérios de estadiamento da insuficiência renal aguda (IRA) e da doença renal crônica (DRC) em relação à administração intravenosa do meio de contraste iodado (tabela 2).Tabela 2<table width="312"><tbody><tr><td width="312" colspan="2">INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA</td></tr><tr><td width="67">Estágio</td><td width="245">Creatinina sérica</td></tr><tr><td width="67">1</td><td width="245">↑ 1,5 -1,9 vezes do nível basal</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">ou</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">↑≥ 0,3 mg/dL (≥ 26,5 µmol/l)</td></tr><tr><td width="67">2</td><td width="245">↑ 2,0-2,9 vezes do nível basal</td></tr><tr><td width="67">3</td><td width="245">↑ 3,0 vezes do nível basal</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">ou</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">↑≥ 4,0 mg/dL (≥ 353,6 µmol/l)</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">ou</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">Início de diálise</td></tr><tr><td width="67">&nbsp;</td><td width="245">ou</td></tr><tr><td width="67" rowspan="2">&nbsp;</td><td width="245">↓ eTFG para 35mL/min/1,73 m&lt;sup&gt;2&lt;/sup&gt;</td></tr><tr><td width="245">em pacientes com idade&lt;sup&gt; &lt;/sup&gt;&lt;18 anos</td></tr></tbody></table>&nbsp;&nbsp;<table width="457"><tbody><tr><td width="457" colspan="4">INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA</td></tr><tr><td width="66">Estágio</td><td width="391" colspan="3">Critérios de eTFG</td></tr><tr><td width="66">G1</td><td width="391" colspan="3">≥ 90 mL/min/1,73 m&lt;sup&gt;2&lt;/sup&gt; com marcadores de dano renal</td></tr><tr><td width="66">G2</td><td width="391" colspan="3">60-89 mL/min/1,73 m^2 &nbsp;com marcadores de dano renal</td></tr><tr><td width="66">G3a</td><td width="391" colspan="3">45-59 mL/min/1,73 m^2</td></tr><tr><td width="66">G3b</td><td width="391" colspan="3">30-44 mL/min/1,73 m^2</td></tr><tr><td width="66">G4</td><td width="391" colspan="3">15-29 mL/min/1,73 m^2</td></tr><tr><td width="66">G5</td><td width="391" colspan="3">&lt; 15 mL/min/1,73 m^2</td></tr><tr><td width="66">&nbsp;</td><td width="391" colspan="3">Critérios de Albuminúria</td></tr><tr><td width="66">&nbsp;</td><td width="189">Taxa de excreção de albumina</td><td width="202" colspan="2">Creat/Albumina</td></tr><tr><td width="66">&nbsp;</td><td width="189">mg/24h</td><td width="94">mg/mol</td><td width="107">mg/g</td></tr><tr><td width="66">A1</td><td width="189">&lt;30</td><td width="94">&lt;3</td><td width="107">&lt;30</td></tr><tr><td width="66">A2</td><td width="189">30-300</td><td width="94">3-30</td><td width="107">30-300</td></tr><tr><td width="66">A3</td><td width="189">&gt;300</td><td width="94">&gt;30</td><td width="107">&gt;300</td></tr></tbody></table>&nbsp;O que é a fibrose nefrogênica sistêmica (FNS)?A FNS como o próprio nome diz, é uma doença fibrótica, sistêmica, potencialmente debilitante e por vezes letal, que ocorre quase exclusivamente em pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica grave (com taxa de filtração glomerular &lt; 30 mL / min por 1,73 m&lt;sup&gt;2&lt;/sup&gt;). Acredita-se que seja desencadeada pela exposição aos MCBG e dependa de características individuais, porém seu mecanismo ainda é pouco compreendido. O intervalo entre a exposição aos MCBG e o início dos sintomas é muito variável, desde algumas horas até aproximadamente 10 anos (mediana, 42 dias). Desde 2008, o número de casos relatados de FNS caiu drasticamente, provavelmente devido a ações regulatórias, e diminuição da utilização dos MCBG do grupo I em pacientes com insuficiência renal.O risco de FNS é o mesmo para todos os MCBG?O ACR categoriza os MCBG em três grupos (Tabela 1) de acordo com a associação de risco com a FNS.Grupo I: Quase todos os casos de FNS foram ligados a um dos três MCBG lineares do grupo I. Estes MCBG deixaram de ser comercializados na maioria dos países.Grupo II: Poucos casos de FNS foram associados aos MCBG do grupo II. Os autores, ressaltam, entretanto, que o risco estimado de FNS em pacientes do estágio 5 foi baseado em apenas 2581 indivíduos.Grupo III: Poucos casos de FNS foram associados aos MCBG do grupo III, porém os relatos de sua administração em pacientes de alto risco são escassos na literatura.Existe uma relação entre a FNS e a dose de MCBG?Todas as associações NSF confirmadas ocorreram após a administração de MCBG do grupo I.Os trabalhos demonstram risco aumentado para FNS após administração de doses maiores de GBCM do grupo I.Múltiplas administrações, presumivelmente de MCBG do grupo I, aumentaram o risco de desenvolver FNS em comparação com uma única exposição ou nenhuma exposição (Odds ratio de 44,5 em múltiplas exposições, de 6,7 para uma única exposição e de 0,0 para nenhuma exposição.Embora o risco de FNS com MCBG do grupo II e, possivelmente do grupo III, utilizando-se as doses aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration), seja extremamente baixo, os riscos com doses maiores ou com administração intra-arterial não foram avaliados. Em geral, a menor dose diagnóstica de MCBG deve ser usada, pesando-se sempre o risco-benefício de sua administração.O rastreamento para doença renal deve ser usado para identificar pacientes em risco de FNS antes da administração MCBG?O ACR, a Sociedade Europeia de Radiologia Urogenital (ESUR) e a Associação Canadense de Radiologia emitiram recomendações liberalizando a administração dos MCBG do grupo II em pacientes de alto risco e, deixando a triagem da função renal opcional nestes casos. A ESUR aconselha, contudo, "cautela" ao administrar MCBG do grupo II a pacientes com eTFG inferior a 30 mL / min por 1,73 m&lt;sup&gt;2&lt;/sup&gt;.O rastreamento de doença renal ainda é recomendado antes da administração de MCBG do grupo III, pois, embora não existam casos comprovados de FNS associados aos contrastes destas classes, os dados disponíveis são escassos.Se o rastreamento da função renal for indicado, como deve ser realizado? Quais fatores de risco devem ser utilizados para motivar a avaliação da função renal?<ul><li>Se o rastreamento da função renal for indicado, deve ser verificada a presença de fatores de risco clínicos preditores de IRA ou DRC estágios 4 ou 5.</li><li>Caso um ou mais fatores de risco clínicos* estiverem presentes, a eTFG deve ser obtida.</li></ul>* Antecedentes pessoais de doença renal (DRC, IRA cirurgia ou ablação renais, albuminúria); diabetes melitus (fator opcional); idade do paciente e hipertensão arterial controlada ou não (indicadores sensíveis, porém &nbsp;pouco específicos).Se um paciente tem IRA ativa ou está em diálise, a triagem da função renal não é indicada porque a eTFG não é confiável nestes contextos clínicos e esses pacientes já apresentam alto risco para FNS.Qual limite de eTFG deve ser utilizado pelo setor de radiologia para acionar o contato direto com o médico referenciador e deveria ser influenciado por outros fatores de risco?Os MCBG do grupo II podem ser administrados a pacientes de alto risco sem triagem da função renal ou contato com o referenciador.Em relação aos MCBG do grupo III, caso o paciente seja classificado no grupo de alto risco para FNS (AKI ou eTFG &lt; 30 mL / min por 1,73 m2), isso deve levar a consideração ativa considerar o risco-benefício de sua administração e o uso de estratégias alternativas de diagnóstico, além, de comunicação entre o radiologista e o referenciador.Antes da administração dos MCBG do grupo II ou grupo III os pacientes com IRA ou DRC estágio 4 ou 5 devem ser informados do risco potencial de NSF associado à administração de MCBG, o motivo de sua administração e se existem alternativas viáveis de diagnóstico. O consenso afirma não ser necessário um termo de consentimento escrito, porém a maioria dos serviços no Brasil o utilizam de rotina.Em um paciente com doença renal, há profilaxia que pode reduzir o risco de NSF?Não há profilaxia conhecida para reduzir o risco de FNS em pacientes de alto risco. As estratégias de mitigação de risco incluem: aguardar a recuperação da função renal antes da administração do MCBG e utilizar MCBG do grupo II.A diálise deve ser iniciada ou antecipada em pacientes com doença renal que recebem MCBG?Embora a hemodiálise seja eficaz na remoção de GBCM do organismo, a redução no risco de FNS é apenas teórica, não tendo sido demonstrada em estudos randomizados. A hemodiálise é mais eficaz do que a diálise peritoneal na remoção do MCBG (34), porém nenhuma forma de diálise é considerada profilática para FNS.O MCBG deve ser considerado nefrotóxico quando administrado usando uma dose padrão?Não existem estudos clínicos demonstrando um risco de nefrotoxicidade clinicamente importante com doses recomendadas de MCBG (0,1 mmol / kg). &nbsp;Embora, o risco já foi relatado com doses mais altas.Estas recomendações devem ser alteradas em pacientes que recebem&nbsp;medicamentos nefrotóxicos, quimioterapia ou contraste iodado?Não, em geral, as recomendações não devem ser alteradas nas situações mencionadas. A administração de drogas nefrotóxicas não precisa ser interrompida antes do uso da dose padrão de MCBG do grupo II ou grupo III.A ressonância magnética (RM) com contraste pode ser realizada imediatamente antes ou depois da TC com contraste (e vice-versa) sem preocupações adicionais de segurança. Geralmente, recomenda-se que a RM com contraste seja realizada após a TC.Quanto tempo deve decorrer entre administrações de MCBG sequenciais?O risco de FNS com doses padrão múltiplas e próximas de MCBG do grupo II ou grupo III em pacientes com eTFG ≥ 30 mL / min por 1,73 m^2 é provavelmente muito pequeno.Por outro lado, o risco em pacientes com eTFG &lt; 30 mL / min por 1,73 m^2 não foi avaliado.Se houver uma indicação urgente de repetição do exame com MCBG este não deve ser retardado temendo a FNS. Porém, se for possível retardar o uso de MCBG por 24 horas ou realizar uma sessão de diálise, haverá maior depuração do MCBG.Qualquer um dos itens acima deve ser alterado na população pediátrica?Em geral, as recomendações não devem ser alteradas para bebês e crianças. A aferição da função renal em crianças deve ser avaliada pela Equação de Schwartz ou equação CKiD baseada em creatinina-cistatina C ao invés de utilizar equações eTFG que foram desenvolvidas e validadas em adultos. O relato de FNS ocorreu raramente em crianças, sendo que nenhuma acometida recebeu MCBG do grupo III GBCM e não há casos bem documentados de FNS em pacientes pediátricos que receberam contraste do grupo II.Entretanto, o risco de FNS em pacientes pediátricos expostos aos MCBG dos grupos II ou III é desconhecido.Resumo das principais declarações de consenso ACR-NKF sobre o uso de contraste contendo gadolínio intravenoso<ol><li>Pacientes com transplante renal, IRA e com DRC em estágios 4 ou 5 que são expostos a MCBG do grupo I - especialmente doses repetidas ou doses mais altas - têm maior risco de FNS.</li><li>O risco de FNS é diferente para os diversos tipos de MCBG e pode ser estratificado em três grupos (grupo I: risco mais alto; grupo II: risco muito baixo; grupo III: risco provavelmente muito baixo, porém a evidência confirmatória é insuficiente).</li><li>O risco de FNS aumenta com doses maiores de MCBG do grupo I. O risco relacionado à dose de FNS do grupo II e do grupo III GBCM é desconhecido, mas em geral a menor dose diagnóstica de MCBG deve ser usada.</li><li>O MCBG do Grupo II não deve ser proscrito ou retardado em pacientes nos quais a não utilização do mesmo possa resultar em dano, isto é, é necessário avaliar o risco/benefício.</li><li>A triagem da função renal é opcional para MCBG do grupo II, mas é necessária para o MCBG do grupo III.</li><li>A comunicação entre o médico radiologista e o médico do paciente em relação ao risco de FNS não é necessária para a administração do MCBG do grupo II, mas é sugerida para a administração de MCBG do grupo III em pacientes com eTFG &lt; 30 mL / min por 1,73 m^2 &nbsp;ou com IRA.</li><li>O risco de FNS é muito baixo para a dose padrão (0,1 mmol / kg) de MCBG do grupo II, mesmo em pacientes com eTFG &lt; 30 mL / min por 1,73 m^2 &nbsp;ou IRA.</li><li>A profilaxia para a prevenção de FNS não é indicada. As estratégias de mitigação de risco podem incluir aguardar a recuperação da função renal e uso de MCBG do grupo II.</li><li>A diálise não deve ser iniciada ou antecipada em decorrência da administração de MCBG do grupo II ou III.</li><li>A dose padrão recomendada de MCBG dos grupos II ou III não apresenta risco clinicamente significativo de nefrotoxicidade.</li><li>Se várias doses de MCBG do grupo II ou III forem indicadas em casos de urgência, as doses subsequentes não devem ser retardadas por receio de FNS. Se não urgente, atrasar a (s) dose (s) subsequente (s) em 24 horas ou realizar diálise para promover a eliminação do MCBG.</li><li>As recomendações acima também se aplicam e não devem ser modificadas em pacientes recebendo medicamentos nefrotóxicos, quimioterapia ou contraste iodado da tomografia computadorizada.</li><li>As recomendações acima também se aplicam a pacientes pediátricos. O risco de FNS em pacientes pediátricos parece ser baixo, mas os dados são limitados. A equação de Schwartz à beira do leito ou a equação CKiD baseada em creatinina-cistatina C deve ser usada para avaliar a eTFG em bebês e crianças.</li></ol>Conclusão:&nbsp;O consenso foi elaborado baseando-se em evidências científicas atuais e opinião de especialistas, entretanto, na prática clínica, as recomendações neste artigo devem ser consideradas no contexto de todo o cenário clínico. As decisões de administrar gadolínio devem ser influenciadas por diversos fatores que incluem a necessidade de um diagnóstico preciso, alternativas de métodos diagnósticos, riscos de diagnóstico tardio ou incorreto, comorbidades, expectativas em relação à recuperação da função renal e o risco de uma reação alérgica.

Novas recomendações do uso dos meios de contraste à base de gadolínio nos exames de ressonância magnética em pacientes com insuficiência renal

Serrated polyposis: rapid and relentless development of colorectal neoplasia

Evidence-based Guidelines for Precision Risk Stratification-Based Screening (PRSBS) for Colorectal Cancer: Lessons learned from the US Armed Forces: Consensus and Future Directions

Ainda me lembro certa vez quando recebi a ligação telefônica de minha mãe pedindo que eu avaliasse a tomografia computadorizada de um vizinho, pois segundo os médicos ele teria uma doença grave. Sim, com apenas 58 anos, ele apresentava um câncer de cólon com múltiplas metástases hepáticas e pulmonares. Realmente, tratava-se de uma doença grave. Fiquei compadecida, mas irritada ao mesmo tempo, pois além desta história, já havia visto muitas out

Ainda me lembro certa vez quando recebi a ligação telefônica de minha mãe pedindo que eu avaliasse a tomografia computadorizada de um vizinho, pois segundo os médicos ele teria uma doença grave. Sim, com apenas 58 anos, ele apresentava um câncer de cólon com múltiplas metástases hepáticas e pulmonares. Realmente, tratava-se de uma doença grave. Fiquei compadecida, mas irritada ao mesmo tempo, pois além desta história, já havia visto muitas outras com desfechos nada felizes. Por que as pessoas continuam morrendo por câncer colorretal (CCR), uma doença na maioria dos casos prevenível? Por que usamos máscaras e rezamos para que uma vacina contra o SARS-CoV-2 esteja disponível o quanto antes e não fazemos o rastreamento para o CCR? Por que não o indicamos com veemência aos nossos pacientes? Às vezes, até recomendamos, mas não somos verdadeiramente firmes e incisivos.O CCR geralmente surge a partir de uma lesão precursora e demora vários anos para se desenvolver. Esta é a sequência adenoma-carcinoma, responsável por cerca de 70% dos casos. Por esta razão, o CCR é considerado ideal para o rastreamento, pois apresenta lesão precursora conhecida (adenoma), facilmente tratável (ressecção colonoscópica) e de evolução lenta (longa janela para sua detecção). Estima-se que esta janela seja de 26 anos para adenoma diminuto, 8 anos para adenoma pequeno e 5 anos para adenoma grande. Os adenomas avançados (maiores ou iguais a 1,0 cm, com displasias de alto grau ou com componentes vilosos) apresentam maior risco de evoluir para CCR. A via serrilhada, uma segunda via de desenvolvimento do CCR, tem como principais lesões precursoras as lesões serrilhadas sésseis que mesmo sem displasias avançadas, podem evoluir para o CCR e habitualmente se localizam no cólon direito.&nbsp;A prevenção primária do câncer colorretal envolve mudanças no estilo de vida como atividade física regular, adoção de dieta rica em fibras, frutas e vegetais, com menos carnes vermelhas, gorduras e alimentos processados, controle do peso e do consumo de bebidas alcóolicas e cigarros. A prevenção secundária, refere-se ao rastreamento que deve se iniciar entre 45 e 50 anos de idade, para pacientes com baixo risco, isto é, sem outros fatores de risco de CCR (tabela 1). Há diversas opções de rastreamento do CCR (tabela 2), com diferentes níveis de evidência para justificar o seu uso, assim como, características inerentes às mesmas, como facilidade na realização, aceitação, disponibilidade e riscos (tabela 3). É praticamente consenso entre as organizações que ALGUM MÉTODO DE RASTREAMENTO É MELHOR DO QUE NENHUM. Assim, devemos apresentar aos nossos pacientes as diversas opções, explicando suas vantagens e desvantagens. Embora a colonoscopia seja o único método de rastreamento que não necessita nenhum teste adicional, exames menos invasivos, como o FIT (teste imunológico para sangue oculto nas fezes), e a colonoscopia virtual (colonografia por tomografia computadorizada) podem ser uma boa alternativa. Estes exames, como mencionado acima, necessitarão de uma complementação com a colonoscopia se forem positivos, porém, seu uso se justifica pois cerca de 85 % das colonoscopias, em indivíduos com risco populacional normal (baixo), não demonstram alterações relevantes. A colonoscopia, neste contexto, teria um papel terapêutico e não apenas diagnóstico, por permitir a ressecção de lesões precursoras.O desfecho desta doença, como de tantas outras, é influenciado pelo estágio na qual ela é diagnosticada. Estudos prospectivos e randomizados bem conduzidos já demonstraram que o rastreamento é capaz de reduzir a incidência, assim como a mortalidade pelo CCR. Desta forma, temos que assumir um papel mais efetivo, estimulando a aderência de nossos pacientes, tanto ao rastreamento do CCR, quanto ao seguimento dos exames positivos.&nbsp;Fatores de risco de CCR (tabela 1)<table><tbody><tr><td width="566">Risco moderado </td></tr><tr><td width="566">História familiar de CCR em um ou mais parentes de primeiro grau, </td></tr><tr><td width="566">Antecedente pessoal de pólipo (maior do que um centímetro ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho) e de CCR </td></tr></tbody></table>&nbsp;<table><tbody><tr><td width="566">Risco alto </td></tr><tr><td width="566">CCR hereditário com polipose: polipose adenomatosa familiar (PAF), poliposes hamartomatosas </td></tr><tr><td width="566">Câncer colorretal hereditário não poliposo (HNPCC) </td></tr><tr><td width="566">Doença inflamatória intestinal </td></tr></tbody></table>&nbsp;Recomendações de rastreamento da American Cancer Society para pacientes de baixo risco&nbsp;Tabela 2<table><tbody><tr><td width="566">Exames de fezes </td></tr><tr><td width="566">Teste imunológico para sangue oculto nas fezes (FIT) a cada ano </td></tr><tr><td width="566">Teste de DNA nas fezes a cada 3 anos (não disponível no Brasil) </td></tr><tr><td width="566">Teste de sangue oculto nas fezes baseado em Guaiaco a cada ano </td></tr></tbody></table>&nbsp;<table><tbody><tr><td width="566">Exames estruturais do cólon e reto </td></tr><tr><td width="566">Colonoscopia a cada 10 anos </td></tr><tr><td width="566">Colonografia por tomografia computadorizada (colonoscopia virtual) a cada 5 anos </td></tr><tr><td width="566">Sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos </td></tr></tbody></table>&nbsp;Tabela3<table><tbody><tr><td width="189">Teste </td><td width="189">Benefícios </td><td width="189">Limites </td></tr><tr><td width="189">Teste imunológico para sangue oculto nas fezes (FIT) </td><td width="189">Sem riscos diretos para o cólon &nbsp; </td><td width="189">Menor sensibilidade na detecção de pólipos e alguns cânceres &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Não requer preparo intestinal ou dieta pré-teste </td><td width="189">Pode ter resultados falso-positivos &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Coleta feita em casa </td><td width="189">Precisa ser feito todos os anos &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Razoavelmente barato </td><td width="189">A colonoscopia será necessária se anormal &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">Teste de sangue oculto nas fezes baseado em Guaiaco </td><td width="189">Sem riscos diretos para o cólon &nbsp; </td><td width="189">Menor sensibilidade na detecção de pólipos e alguns cânceres e pode ter resultados falso-positivos &nbsp; &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Não requer preparo intestinal </td><td width="189">Mudanças na dieta pré-teste (e possivelmente mudanças na medicação) são necessárias &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Coleta feita em casa </td><td width="189">Precisa ser feito todos os anos </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Barato </td><td width="189">A colonoscopia será necessária se anormal &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">Teste de DNA nas fezes </td><td width="189">Sem riscos diretos para o cólon &nbsp; </td><td width="189">Deve ser feito a cada 3 anos &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Não requer preparo intestinal </td><td width="189">A colonoscopia será necessária se anormal &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Nenhuma dieta pré-teste ou mudanças de medicação são necessárias &nbsp; </td><td width="189">Menor sensibilidade na detecção de pólipos e alguns cânceres &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Coleta feita em casa </td><td width="189">Pode ter resultados falso-positivos &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Ainda não disponível no Brasil </td></tr><tr><td width="189">Colonoscopia </td><td width="189">Permite biópsias e remoção de pólipos &nbsp; </td><td width="189">Requer preparo intestinal </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Feita a cada 10 anos </td><td width="189">É realizada com sedação; sendo necessário acompanhante. Requer internação hospitalar em pacientes idosos </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Pode diagnosticar outras doenças &nbsp; </td><td width="189">Risco pequeno de sangramento, lacerações intestinais ou infecção &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Geralmente avalia todo cólon </td><td width="189">É mais cara </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Pode perder pequenos pólipos </td></tr><tr><td width="189">Colonografia por tomografia computadorizada (colonoscopia virtual) &nbsp; </td><td width="189">Exame rápido e seguro &nbsp; </td><td width="189">Requer preparo intestinal (realizado em casa, na véspera do exame) </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Sem sedação, não necessita acompanhante Paciente pode trabalhar logo após o exame </td><td width="189">Não é possível remover pólipos ou fazer biópsia durante o teste </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">É segura em pacientes que usam anticoagulantes, idosos e com comorbidades </td><td width="189">A colonoscopia será necessária se anormal Pode perder pequenos pólipos &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Feita a cada 5 anos &nbsp; </td><td width="189">Exposição à radiação (pequena) &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Pode perder pequenos pólipos &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">Sigmoidoscopia flexível </td><td width="189">Rápida &nbsp; </td><td width="189">Pode ser desconfortável &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Normalmente não requer preparação intestinal completa &nbsp; </td><td width="189">Avalia apenas um terço do cólon &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Sedação geralmente não usada &nbsp; </td><td width="189">Não é possível remover todos os pólipos </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Feita a cada 5 anos &nbsp; </td><td width="189">Risco muito pequeno de sangramento, infecção ou laceração intestinal &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">A colonoscopia será necessária se anormal &nbsp; </td></tr><tr><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">&nbsp; </td><td width="189">Pode perder pequenos pólipos &nbsp; &nbsp; </td></tr></tbody></table>&nbsp;Referências&nbsp;American Cancer Society<a target="_blank" rel="noopener noreferrer" href="https://www.cancer.org/cancer/colon-rectal-cancer/detection-diagnosis-staging/acs-recommendations.html">https://www.cancer.org/cancer/colon-rectal-cancer/detection-diagnosis-staging/acs-recommendations.html</a>U.S. Preventive Services Task Force&nbsp;<a target="_blank" rel="noopener noreferrer" href="https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/colorectal-cancer-screening">https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/colorectal-cancer-screening</a>&nbsp;Chen CD, Yen MF, Wang WM, Wong JM, Chen TH. A case-cohort study for the disease natural history of adenoma-carcinoma and de novo carcinoma and surveillance of colon and rectum after polypectomy: implication for efficacy of colonoscopy. Br J Cancer. 2003 Jun 16;88(12):1866-73.

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